domingo, 25 de março de 2018

Nosso Cinema

O Recanto do Cinéfilo cresceu!!

A partir de agora, o blog vai ser substituído por um site. Não vai deixar de existir, mas não vai ser atualizado. Eu continuarei escrevendo as minhas críticas, mas agora em site próprio, o Nosso Cinema. Conto com o apoio de todos os leitores para divulgar, compartilhar, acompanhar e seguir o novo portal nas redes sociais. Podem colocar nos favoritos porque o site vai estar recheado de críticas. Espero que gostem!


O endereço do site é: http://www.nossocinema.com.br/

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Agradeço o apoio!

Diogo.

quarta-feira, 21 de março de 2018

Círculo de Fogo - A Revolta -- Invólucro lustroso sem conteúdo

A humanidade e o planeta estão em perigo: com homens de ação, tecnologia de ponta e cientistas malucos, os povos se unem para enfrentar o inimigo em comum. Ao que tudo indica, esse inimigo foi vencido e a paz voltou a reinar. Porém, a ameaça apenas esteve dormente, pois retorna alguns anos depois. O grande herói deixou um descendente simbólico para ser o novo salvador, que vai comandar a batalha vindoura.

A descrição acima não se refere a "Independence day: O ressurgimento", mas a CÍRCULO DE FOGO: A REVOLTA. A diferença entre eles está no descendente simbólico: no primeiro, Jessie Usher interpreta o enteado do capitão Steven Hiller, vivido por Will Smith; no segundo, coube a John Boyega atuar como o filho de Stacker Pentecost, interpretado por Idris Elba. O que os filmes têm em comum, por sua vez, é a adrenalina pirotécnica com efeitos bem apresentados, um invólucro aparentemente lustroso para um conteúdo oco - como tinha ocorrido no primeiro capítulo da possível nova franquia.


Nos minutos iniciais, há uma salutar retomada da mitologia criada no primeiro filme, bem como dos fatos lá ocorridos - afinal, passaram-se cinco anos desde então (embora na história o lapso seja de dez anos). Concebido como uma homenagem a monstros gigantes, já que uma das mentes por trás da obra é ninguém menos que Guillermo del Toro (diretor e corroteirista do longa de 2013), a criativa montagem do prólogo simula os quadros de um gibi, como se o espectador estivesse lendo uma história em quadrinhos, passando o olho de um quadro para outro.

Visualmente, apesar de del Toro não ser mais o diretor (cargo que ficou com Steven S. DeKnight), o viés da película é idêntico ao original, não havendo aprimoramentos substanciais. O 3D é razoável e são apresentados novos Jaegers (os robôs gigantes controlados por humanos através de uma conexão neural), inclusive portando novas armas (como clava e chicote), sendo perceptível a preocupação em diversificar nos robôs. No geral, os efeitos visuais são bons, derrapando apenas quando surgem vários seres que parecem ratos, correndo pelas ruas de Tóquio para determinada finalidade, cena em que os efeitos são mal executados. Além disso, quando um Jaeger pequeno interage com um maior, há uma falha de proporção, pois varia o tamanho de um em relação ao outro (não é possível ter certeza do quão menor ele é, em razão dessa variação).

O longa tarda, mas não deixa de entoar sua ótima música-tema (repetida do anterior), que evoca um sentimento de empolgação. No quesito trilha sonora, porém, esse é o único aspecto memorável, pois a cena embalada por "I Wanna Know What Love Is" é inteligente no seu conteúdo para funcionar na narrativa, mas acaba não combinando muito com a canção, enquanto a cena em que toca "Garota de Ipanema" em versão instrumental é absolutamente clichê (inclusive em filmes de ação, como "Sr. e sra. Smith" e "Duro de matar: um bom dia para morrer"). No primeiro caso, a música não tem função narrativa, ou, mais precisamente, não guarda coerência com o que se segue; no segundo, possivelmente a mera descrição já permite concluir como é a cena.

O roteiro novamente não é um primor, mas o plot procura desenvolver um número considerável de personagens, o que enriquece a trama. Embora exista claramente um protagonista, o rol de coadjuvantes não é meramente numérico: Cailee Spaeny convence como Amara, personagem cujo arco dramático é previsível, mas não é abordada de maneira unidimensional, interagindo com muitos colegas e apresentando seu histórico; Scott Eastwood não vai mal como um herói terciário; Jing Tian é competente na trajetória de Liwen - porém, falta sutileza na mudança de tom da personagem, principalmente do ponto de vista estético -; e Burn Gorman e Charlie Day praticamente repetem o que já tinham feito no primeiro filme. Cada um consegue ter seu momento. Destoa Adria Arjona, que vê sua Jules envolvida em um subplot desnecessário e (o que é pior) sem resolução. John Boyega consegue fazer com que Jake sustente o filme, logo, cumpre sua tarefa primordial. A virada radical na sua conduta, ainda que previsível, pode soar incoerente, mas essa seria uma conclusão precipitada, pois há um evento fundamental para o seu amadurecimento, justificando a mudança (que se torna muito mais verossímil que a reviravolta na personalidade de Liwen). Também é benéfico ao enredo que Jake seja um herói falho (não apenas pelo histórico como pela má-vontade em assumir a condição de herói), pois isso humaniza o protagonista.

O roteiro acaba falhando em dois quesitos, o que prejudica muito a produção - isso sem contar equívocos menores, como, por exemplo, uma personagem repetindo uma fala ("estamos perdendo potência") que já tinha sido dita pelo Jaeger. A primeira e principal é repetição do seu precursor: mesmo reconhecendo alguns acertos na forma, no conteúdo o filme é muito vazio, sendo difícil retirar dele algo mais profundo do que o "nós, humanos, contra eles, seres que nos querem fazer mal". A mensagem (a "moral da história") é ausente, pairando uma sensação de vazio interior, como se fosse um vaso bonito, porém sem nada em seu interior. A segunda falha foi a opção de aumentar a aparição dos Jaegers, em detrimento dos Kaijus (os monstros que os robôs enfrentam). Na prática, há um flerte com a franquia "Transformers": muito barulho, muita explosão e pouquíssimo texto.

Ok, apenas a fala "não deixe que o que os outros pensam de você defina quem você é", dita em "Círculo de fogo - A revolta" já tem maior valor que "Transformers 43: A vingança do último cavaleiro extinto na lua".

terça-feira, 20 de março de 2018

Com Amor, Simon -- Certeiro dentro da sua proposta

Nem todos os filmes são capazes de dialogar para o público adolescente, muitas vezes avesso a mensagens enobrecedoras ou humanistas. COM AMOR, SIMON é extremamente eficaz ao tratar com delicadeza a homoafetividade adolescente.

O filme é protagonizado por Simon, um adolescente que considera ter uma vida normal, ressalvada pelo segredo referente à sua homossexualidade. Apesar de ser um segredo - inclusive para sua família e seus amigos -, o que Simon mais quer é encontrar um amor, encontrando dificuldade tanto nessa busca quanto em lidar com o sigilo da sua sexualidade.

O centro da trama é a busca de um amor, pelo protagonista, não a "saída do armário", que se torna periférica. Simon sabe que é gay, querendo apenas conviver melhor com a sua sexualidade (pois o sigilo lhe é incômodo, aliás, é uma ressalva que ele faz quanto à normalidade da sua vida) e encontrar um namorado. O coming out é abordado com maestria: instrutivo e reflexivo (portanto, denso) sem ser maçante. São vários os momentos em que Simon se revolta com a injustiça de apenas os gays precisarem assumir a própria sexualidade publicamente. O que ele questiona é: por que a sexualidade individual ainda é assunto para as outras pessoas? Nesse sentido, ele fica consternado quando a notícia principal da escola é que existe um gay não assumido publicamente - e que os demais querem saber quem é. Porém, sua própria reflexão chega a outra indagação: por que gays precisam noticiar para o mundo que são gays? Perspicaz, o filme ridiculariza (no bom sentido) a indagação do protagonista, simulando, em uma sequência muito engraçada, os colegas heterossexuais se assumindo nessa condição perante as outras pessoas. Em outras palavras, a diferença entre a suposta necessidade de os gays assumirem publicamente a própria homossexualidade, enquanto os heteros não precisam falar nada (não correndo o risco, por exemplo, de causar uma decepção familiar), é uma flagrante injustiça denunciada pelo protagonista, que, todavia, a satiriza (ao invés de apenas dramatizar sua situação).

O que enriquece a película é que essa ridicularização pelo exagero é um senso crítico digno de nota, pois evita que o filme se torne desgastante e desinteressante para o público adolescente - que certamente prefere o surrealismo de um jovem decepcionando seus pais por se afirmar heterossexual à triste realidade contemporânea da não aceitação. A obra chega ao extremo do ridículo (reitera-se, no bom sentido), encenando uma coreografia de um musical - a cena é ótima, inclusive - ao som de "I Wanna Dance With Somebody" (cantada pela Whitney Houston) -, novamente com o protagonista imaginando uma realidade à parte, em que o coming out seria cheio de cores (literalmente) e alegria. Contudo, ele mesmo assume, em narração voice over, que não precisaria ser "tão gay" - o que não soa como um comentário preconceituoso, mas apenas uma ironia (afinal, o público-alvo espera piadas desse tipo). Coerente com suas premissas, "Com amor, Simon" usa o ridículo para gerar humor, sendo muito eficiente nessa proposta (como nas passagens mencionadas) - aliás, trata-se de um viés humorístico que agrada o público jovem. Exemplo disso é Martin, personagem vivida por Logan Miller (já conhecido pelo pavoroso "Como sobreviver a um ataque zumbi"), que é a corporificação impecável da expressão "vergonha alheia", da atuação ao visual (incluindo o figurino e até mesmo a arte de seu quarto). Vale ressaltar que o humor não exclui a seriedade e a maturidade do filme, que não esquece os efeitos colaterais da autodescoberta (como a repressão, a exclusão social e o desamparo familiar). É o que acontece quando Simon conversa com um colega assumidamente gay, descobrindo que a "saída do armário" (o processo e suas consequências) não é fácil para nenhum deles - mas não deixa de ser uma decisão íntima e pessoal. Por via reflexa, o filme evita estereótipos e mostra que sexualidade e personalidade não se confundem (o que se cristaliza nos figurinos).

Em termos narratológicos, não existe um verdadeiro antagonista na trama, embora uma das personagens tenha vários momentos de vilania, inclusive enquanto engrenagem narrativa. Os coadjuvantes estão lá para demonstrar o amparo recebido pelo protagonista (quando recebido) para enfrentar o seu drama. Ao seu lado estão uma mãe carinhosa e compreensiva, interpretada por uma Jennifer Garner bem sensível; um pai, vivido por um convincente Josh Duhamel, aparentemente homofóbico, mas que apenas se equivoca quanto ao filho; e um círculo de amigos muito verossímil. Quanto aos amigos do protagonista, o roteiro acerta ao dar-lhes arcos dramáticos próprios, saindo da exclusividade de Simon. Nick Robinson parece estar melhorando em cada papel: foi ruim em "Jurassic World" e em "A quinta onda", melhorou muito em "Tudo e todas as coisas" e aqui novamente tem bom desempenho. Sua introspecção, aparentemente inata, é coerente com o papel, merecendo atenção a linguagem corporal que o ator dá à personagem - por exemplo, ao costumeiramente deitar-se de barriga para baixo, indicando sua postura descontraída e jovial. Simon não chega a ser multifacetado, mas também não é unidimensional, como se percebe ao explicar como percebeu sua atração por pessoas do mesmo sexo (as menções a Daniel Radcliffe e Jon Snow são críveis) e, principalmente, quando ele deixa claro que não tem vergonha de ser gay. Isso até mesmo faz sentido, considerando o mote inspirador que envolve a produção, do ponto de vista ideológico. "Com amor, Simon" não quer surpreender, mas emocionar e inspirar seu público.

Greg Berlanti, showrunner de algumas temporadas das séries da DC Comics (como a quarta de "The Flash" e a terceira de "Legends of tomorrow"), entende que o essencial na direção é dar um contexto verossímil ao enredo. Os alunos se dividem em grupos, vários são "viciados" no uso do celular, selfies são constantes e o bullying é uma realidade aterrorizadora para os adolescentes. Embora a obra seja fictícia (baseada em um livro), poderia ter sido retirada de um relato real e convenceria para isso. A direção é sensível, criando cenas calorosas (como a que Simon conversa a sós com Abby no carro) e paradigmáticas (como a que uma professora resmungona repreende os bullies).

"Com amor, Simon" dificilmente vai conseguir reverberar perante o grande público, tendo grande probabilidade de ser encarado como um filme pueril e raso. De fato, é uma comédia adolescente bem leve e, em tese, aberta a todos os públicos. Porém, o filme não é raso no conteúdo, pois consegue estimular a reflexão do espectador. Os desafios juvenis podem parecer pequenos, mas, no seu momento, consistem em adversidades de difícil superação. Ademais, a abordagem é irrepreensível: o longa tem um discurso que certamente vai chamar a atenção dos adolescentes. É ameno enquanto obra de arte, mas certeiro dentro da sua proposta, o que é mais do que muitos outros filmes alcançam.

segunda-feira, 19 de março de 2018

Aniquilação -- Autodestruição e incapacidade

Originalidade é um quesito que não falta a ANIQUILAÇÃO, filme produzido pela Paramount cujos direitos de distribuição foram comprados pela Netflix. O estúdio provavelmente não acreditava no potencial de bilheteria do longa, deixando-o para o streaming. De fato, trata-se de um filme tão original que desagradará parcela considerável do público. Isso não significa, porém, má qualidade: significa apenas que é uma produção diferenciada demais para quem está acostumado com o fordismo cinematográfico. Não é mais do mesmo, é heterodoxia em nível radical.

A protagonista da película é Lena, uma bióloga que se junta a outras cientistas em uma empreitada provavelmente suicida: adentrar em uma região conhecida como Área X, afetada por um fenômeno inexplicável em razão do qual a natureza não segue as suas leis. O motivo de Lena querer participar da missão é investigar esse fenômeno, já que seu marido, apesar de ser o único a conseguir retornar do local em uma jornada anterior, voltou gravemente doente.

O argumento parte do mistério, pois o enredo faz questão em ser lacônico em relação às inescapáveis dúvidas do público. Embora não seja novidade, o sci-fi migra para o gênero do suspense e enfim para o terror - algo semelhante a "Alien - O Oitavo Passageiro" -, inclusive com alguns momentos gore. É clara a progressão narrativa: o filme vai se tornando cada vez mais estranho e sem sentido aparente. Além de convincente em todos os gêneros abordados, o longa é dotado de simbologias muito significativas. Por exemplo, quando as cientistas adentram na Área X, não conseguem se lembrar de como montaram acampamento, o que pode ser visto como uma alusão ao encerramento de suas vidas anteriores a essa experiência.

O texto é denso e tem uma tese muito clara: a vida na Terra é estática e o ser humano tem uma firme tendência de autodestruição. Porém, destruir, criar e mudar são termos fluidos, podendo receber novas roupagens, a depender do ponto de vista. É esse, por sinal, o cerne da trama, que pode tornar o filme ininteligível para o espectador desatento - ainda mais considerando a narrativa composta de três linhas temporais, sem um visual diferente entre elas. Ou seja, para entender quando se trata de flashback, flash forward e presente diegético, é necessário compreender a sequência narrativa. Também a postura e o humor da protagonista aclaram o momento diegético, sem olvidar que ter uma atriz do calibre de Natalie Portman faz toda a diferença.

Analisando com maior critério, o roteiro vive de genialidades e de falhas pontuais. O desfecho ambíguo é exemplo do quão brilhante o script consegue ser. Considerando que há um mistério a ser desvendado, as pistas são inteligentemente expostas em doses homeopáticas, como ocorre quanto ao relacionamento entre Lena e o marido (que só é pormenorizado aos poucos). Por outro lado, é decepcionante a falta de aprofundamento nas personalidades das coadjuvantes, que servem apenas para reforçar a premissa do plot. Uma delas, por exemplo, sabe que não tem muito tempo de vida, o que a motiva para a missão, da qual provavelmente não sairá viva. O problema surge quando praticamente não se sabe mais nada sobre ela.

A direção é de Alex Garland, responsável pelo ótimo "Ex_Machina: Instinto Artificial". Há uma queda de nível, todavia é visível o talento do cineasta para a ficção científica autoral, sem ignorar referências como "2001: Uma Odisseia no Espaço" (em especial pelo rebuscamento intelectual). É uma pena que um filme tão apurado na técnica não possa ser visto na sala escura: os efeitos visuais são bons, o design de produção é criativo e a edição de som é formidável. Os efeitos visuais não chegam ao nível de "Ex_Machina", mas superam o bigode do Superman em "Liga da Justiça" boa parte das produções atuais, inclusive algumas de maior orçamento. O show pirotécnico que ocorre em determinado momento é um vislumbre do potencial de Garland - que apresenta um CGI melhor no que não existe, isto é, se dá melhor na margem surreal de suas obras. O design de produção é focado na flora e na fauna, mas tem o ápice em outra forma, mais ao final (sem incorrer em spoiler, basta dizer que é uma forma alternativa aos reinos conhecidos hoje). Na edição de som, considerando que as formas de vida sofrem mutações, foi necessário criar ruídos novos, inclusive em razão da ausência (quase completa) de trilha sonora.

A filmagem no farol é um esboço da narrativa como um todo: quanto mais uma personagem entra no local, mais detalhes aparecem, enquanto ela se desloca. Contudo, quando a personagem para de se locomover, a própria câmera faz a função de mostrar ao espectador o fora-de-campo. Nada é revelado com facilidade em razão do claro objetivo da obra de fazer o público refletir sobre a proposta. Em síntese, Garland provoca o espectador a pensar sobre a própria condição humana: autodestrutiva e incapaz de se renovar.

quinta-feira, 15 de março de 2018

Estreias da semana -- 15/03/2018

A semana tem como estreias dois filmes com crítica já publicada aqui no Recanto. Os demais não parecem ser tão atrativos - o que não impede uma surpresa positiva.


TOMB RAIDER - A ORIGEM
Minha crítica desse filme já foi publicada (clique aqui para ler).


12 HERÓIS
Drama estadunidense com nomes famosos no elenco (Chris Hemsworth, Michael Shannon e Michael Peña).
SinopseBaseado em fatos reais, o filme mostra um grupo de voluntários que formam um batalhão das Forças Especiais dos Estados Unidos para encontrar os terroristas por trás dos atentados de 11 de setembro.


AMANTE POR UM DIA
Drama francês dirigido por Philippe Garrel e estrelado por Eric Caravaca e Esther Garrel.
SinopseUma jovem decide retornar a viver com seu pai, após uma ruptura traumática tempos atrás. O problema é que, ao encontrá-lo, percebe que agora ele vive com uma mulher da mesma idade que ela.


EM PEDAÇOS
Também é um filme com crítica já publicada (clique aqui para ler).


WESTERN
Drama coproduzido entre Alemanha, Bulgária e Áustria.
SinopseUm grupo de trabalhadores alemães da construção civil iniciam uma jornada de trabalho em uma região rural bulgária. O espírito aventureiro dos homens vem à tona e eles também são confrontados com seu próprio preconceito e pela desconfiança devido à barreira do idioma e com as diferenças culturais.


MARIA MADALENA
Adaptação bíblica dirigida por Garth Davis e com elenco famoso (Rooney Mara, Joaquin Phoenix e Chiwetel Ejiofor).
SinopseA história de uma das figuras mais enigmáticas e incompreendidas da história bíblica: Maria Madalena (Rooney Mara). Em busca de uma nova maneira de viver, contrariando as pressões da sociedade, sua família e o machismo de alguns apóstolos, a jovem pescadora junta-se a Jesus de Nazaré (Joaquin Phoenix) em sua incansável missão de propagar a fé.


A LUTA DO SÉCULO
Documentário brasileiro dirigido por Sérgio Machado.
SinopseUm retrato aprofundado sobre a maior rivalidade do boxe brasileiro e sobre o histórico de lutas dos lutadores Luciano Todo Duro e Reginaldo Holyfield. Além do panoramo esportivo, o filme mergulha em outra baralha dos atletas: a luta contra as dificuldades da vida.


O SILÊNCIO DA NOITE É QUE TEM SIDO TESTEMUNHA DAS MINHAS AMARGURAS
Documentário brasileiro dirigido por Petrônio Lorena.
SinopseA poesia da vida cotidiana das pessoas que vivem nas cidades de São José do Egito, Pernambuco, e Ouro Velho e Prata, Paraíba. Um povo cercado por histórias poéticas e de cantoria; uma memória aos vates do sertão que enche o local com música e poesia.

Em Pedaços -- Apenas mais um filme de vingança

Seria EM PEDAÇOS apenas mais um filme de vingança, ou a obra teria algo mais a dizer? Ainda na primeira hipótese, isso é necessariamente ruim? É preciso ter algo mais a dizer?

No longa, Diane Kruger interpreta Katja Sekerci, alemã esposa do turco Nuri e mãe de Rocco. Nuri cumpriu pena por tráfico de drogas, mas agora tem uma vida tranquila com a família, fazendo Katja feliz. Porém, sua felicidade se esvai quando Nuri e Rocco são vítimas de uma bomba criminosa que causa as suas mortes. Katja então decide que os culpados, um casal neonazista, merecem ser punidos a qualquer custo.


O filme é dividido em capítulos bem irregulares. No primeiro, os três são apresentados: o menino é precoce, falando um palavrão que aprendeu na aula de violino e aconselhando o pai a ter empatia; Nuri é um apaixonado pelo filho e pela esposa; e Katja vive satisfeita com a família que constituiu. O primeiro ato é o pior: na primeira parte, o filme velozmente apresenta os três, sem facilitar a identificação cinematográfica secundária, partindo o quanto antes para a bomba; na segunda parte, o luto é extremamente demorado. No segundo ato, o filme se torna mais interessante, ainda que não muito original, enquanto um drama de tribunal. No terceiro, fica mais agitado e tenso, mas também sem originalidade.

Embora em termos narratológicos o filme não chame a atenção, tematicamente ele tem muito potencial, não integralmente concretizado. O envolvimento de Nuri com entorpecentes, que faz parte, em tese, do seu passado, dá ensejo a questões muito sérias e espinhosas, como, por exemplo, o uso de drogas como forma de alívio (por parte de Katja), bem como o subtexto da utilidade do cárcere: embora ele não tenha mais uma dívida com a sociedade, o estigma do ex-condenado não sai dele, mesmo depois de morto (ao menos é como enxergam a mãe de Katja e as autoridades). Isto é, ainda que ele tenha cumprido a sua punição pelo narcotráfico, a sociedade tem convicção que ele vai reiterar o delito, o que demonstra, de um lado, que a sociedade sabe que o cárcere não tem êxito enquanto prevenção, e, de outro, que a prisão não o abandonará, mesmo ele tendo saído dela pelo seu integral cumprimento.

Diane Kruger já é uma atriz consagrada, o que significa que o prêmio de melhor interpretação feminina em Cannes (no ano passado) apenas corrobora seu inegável talento. Sua Katja, quase personagem única da película (em razão da ausência de aprofundamento das demais), é uma mulher destemida e decidida, o que combina com a caracterização marcante (tatuada, cabelo desarrumado e vestuário de cores escuras).

O diretor alemão Fatih Akin acerta nas altas doses de realismo, o que faz já no prólogo, um bem filmado plano-sequência com a câmera na mão (recurso bastante utilizado na película), surpreendendo na plausível quebra da quarta parede. Sua direção é de poucos cortes, priorizando planos longos e deixando os cortes mais abruptos para formar elipses. Entretanto, as filmagens caseiras simuladas não são bem inseridas: apesar de verossímeis, ficam deslocadas na narrativa, pois não faz sentido inserir cenas do pretérito diegético, sem conexão imediata com a linha narrativa do presente diegético - supostamente, Katja está revendo essas filmagens, todavia isso nem sempre fica explícito, além de praticamente não colaborar com o enredo. São exemplos do problema de ritmo apresentado no longa, como ocorre nas sequências do luto da protagonista, que dura muito mais que o necessário, ao menos comparando com outros momentos.

A cena mais impactante do longa é aquela em que Katja descobre que seu marido e seu filho foram vítimas de uma explosão. É o ápice dramático do filme, em que são utilizados apenas sons intradiegéticos, como a chuva, gritos da protagonista e choro - mas sem trilha sonora. A trilha sonora está presente, porém apenas de forma intradiegética também, ou seja, nas cenas em que a protagonista realmente está ouvindo músicas. Visualmente, a película não chama a atenção: por exemplo, em um plano em que a câmera gira em torno da protagonista, exibindo a belíssima vista para a qual ela olha, há o anúncio do desperdício de uma possível fotografia encantadora em terras gregas, já que sabidamente a Grécia é um local visualmente extraordinário, não aproveitado no longa. Ainda do ponto de vista visual, alguns planos em que o rosto de uma personagem aparece em close, com outra personagem também aparecendo no campo, mas em um plano mais aberto, soam artificiais e prejudicam a noção espacial.

O título brasileiro é acertado, já que pode ser interpretado tanto literal quanto metaforicamente. Essa riqueza, todavia, não existe no filme como um todo, pois - respondendo à questão do início - o filme não passa de (mais) um filme de vingança, subgênero que já tem um longo acervo. Falta-lhe um fator extraordinário para que se destaque, como ocorre com "O Regresso" e "Kill Bill", outros filmes de vingança (que têm um plot mais criativo e direções espetaculares), ou a transcendência que facilmente poderia ter ao abordar o neonazismo (como "A Outra História Americana"). "Em Pedaços" não tem muito para dizer (já que retrata um caso isolado, meramente sugerindo que ele não é isolado, mas sem aprofundamento algum) nem muito para mostrar, tendo inclusive um timing ruim de lançamento - em alguns momentos, lembra "O Insulto", em outros, "Corpo e Alma", ambos indicados ao Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira (enquanto o filme alemão foi indicado na mesma categoria, porém no Globo de Ouro, ou seja, são filmes fora do circuito hollywoodiano que tiveram uma exposição maior), mas que se destacam mais. Conclusão: "Em Pedaços" é apenas mais um filme de vingança. Um bom (pois certamente não é ruim) e morno filme de vingança, que rapidamente cairá no esquecimento.

quarta-feira, 14 de março de 2018

Tomb Raider - A Origem -- Blockbuster razoável

Como adaptação de um jogo para as telonas, TOMB RAIDER - A ORIGEM é muito satisfatório. Entretanto, em termos cinematográficos, é apenas razoável - patamar superior ao comumente atingido por adaptações desse tipo.

No filme, a protagonista Lara Croft é a filha de um rico empresário aventureiro que desapareceu há sete anos. Não aceitando a condição de herdeira, ela inicia uma jornada para localizar seu pai no último destino em que ele foi visto, em uma misteriosa ilha no Japão.

Já bem cotada na indústria (em especial depois do Oscar de melhor atriz coadjuvante por "A Garota Dinamarquesa"), Alicia Vikander é muito convincente no papel de Lara, que, contudo, não exige grandes dotes interpretativos. Algo que merece destaque, em especial comparativamente à duologia protagonizada por Angelina Jolie, a não objetificação da atriz, pois o diretor Roar Uthaug não sensualiza a personagem, no máximo mostrando sua "barriga trincada" nos minutos iniciais.

A direção é uma síntese da obra, logo, de nível meramente razoável. Nas cenas de maior adrenalina, ganham realce as músicas agitadas e uma montagem com muitos cortes. Na luta de boxe, por exemplo, o diretor filma com a câmera na mão, o que, aliada à montagem, afeta a compreensão dos movimentos em si - ou seja, provavelmente é um recurso banal para ocultar uma coreografia ruim. Entretanto, o CGI é bom, ainda que prejudicado nos momentos de escuridão. Isto é, a computação gráfica é bem executada, todavia a falta de iluminação dificulta a visualização dos detalhes (e talvez isso seja proposital), ainda mais em se tratando de um filme em 3D - aliás, é mais um 3D dispensável. Existem na película alguns flashbacks, com filtro de cores frias, o que é aprazível do ponto de vista estético e funcional do ponto de vista narratológico.

É justamente a narrativa do longa que deixa a desejar. Não se trata (apenas) da narração voice over da voz do pai de Lara enquanto ela lê os seus escritos - momentos de pouca utilidade e muita preguiça para explicar de outra forma -, mas diversas inverossimilhanças incômodas. Como uma câmera abandonada há no mínimo sete anos funciona perfeitamente? Ao menos a bateria teria acabado nesse período. Como pode a protagonista encontrar um atalho para pegar um assaltante em um local onde nunca esteve antes? Isso sem contar os blefes narrativos que não convencem ninguém: é óbvio que o vilão não vai atirar na heroína na metade do filme (pois assim seria o encerramento do longa), tanto quanto algo vai impedir que um dos capangas atire nela (e a ausência de munição é uma solução vergonhosamente cômica).

Por outro lado, a construção da mitologia em torno da Rainha Himiko é instigante e cria um enigma cuja solução é muito inteligente - ou seja, é uma surpresa positiva, apesar do desfecho previsível. Salvo pela cena do porteiro, que mostra o tratamento grosseiro que alguns entregadores podem receber, não há muito senso crítico no filme, o que não surpreende em se tratando de uma aventura baseada em jogo. Mesmo quando Lara não aceita a herança de seu pai, essa recusa não corresponde à vontade de adquirir patrimônio por mérito próprio, mas ao inconformismo quanto à possibilidade de o pai ter morrido. O vácuo crítico reverbera também no antagonismo: o vilão é unidimensional, havendo outro antagonista que sequer recebe explicação convincente - provavelmente reservando isso para uma continuação, tornando "Tomb Raider" uma nova franquia cinematográfica.

Entre incontáveis corridas e saltos da protagonista, "Tomb Raider - A Origem" lembra bastante a estrutura de um jogo, com fases a serem completadas para um objetivo final. Sua pobreza narrativa, aliada às correrias incessantes - sem contar o quanto ela sofre, parecendo sempre bem, quase descansada (ela consegue até mesmo escalar um penhasco após retirar um pedaço de metal da sua barriga!) -, dão a entender que o filme é ruim. Não é esse o caso: trata-se de um blockbuster razoável para não ser levado a sério e para ser esquecido no dia seguinte.