segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Os Guardiões -- Uma das piores produções cinematográficas

Na mesma semana em que estreia "Atômica", o melhor filme de ação da temporada, ironicamente, estreia seu oposto, o pior filme de ação da temporada, OS GUARDIÕES. Trata-se de uma tentativa russa de criar uma franquia de super-heróis, que resulta em um fracasso retumbante.

A sinopse é razoavelmente atrativa. Durante a Guerra Fria, uma organização secreta chamada Patriota fez experimentos com cobaias humanas para criar super-humanos, modificando seu DNA, para que pudessem defender o país. Eles obtêm êxito, porém, os humanos se separam, vivendo reclusos e anônimos. O anonimato precisa ser abandonado quando a humanidade precisa dos seus poderes para enfrentar um vilão com habilidades adquiridas no mesmo programa.

Como disse a Major responsável por recrutar o grupo: a primeira tarefa é "encontrar entre todos os soviéticos um time de super-humanos para deter um supervilão". E, quando encontram: "está na hora de agir". É fácil perceber que o roteiro é repleto de falas risíveis, que parecem ter saído de um desenho animado voltado ao público infantil. De maneira coerente, os diálogos são vergonhosos: "todos os meus amigos se foram", diz um; "Kuratov está vivo", responde a outra; "eu sabia", ele rebate. Com efeito, parece que o script foi elaborado por uma criança de 10 anos, pois somente isso explicaria um trabalho tão inconsistente e pobre. Por exemplo, existe um plot twist, que seria uma ferramenta inteligente, contudo, acaba sendo absolutamente irrelevante na narrativa. Outro exemplo é o desfecho, que depende de deus ex machina, recurso típico de um roteirista sem habilidade na área.

Dando contornos mais concretos à trama, cientistas ganham poderes, um deles se torna vilão que solta raios; os outros quatro se unem para enfrentá-lo, uma delas tem o poder de ficar invisível. Familiar? É uma imitação mal feita do Quarteto Fantástico, modificando apenas os poderes: um se transforma em urso e tem superforça, outro tem supervelocidade e grandes habilidades com lâminas e outro manipula rochas. Se o original, o Quarteto Fantástico, já não deu muito certo, a cópia não poderia dar também.

O que ajuda a não dar certo é a péssima construção das personagens, o que também é relevante em filmes de super-heróis. Ainda no primeiro ato, a Major responsável por reunir o grupo encontra Ler (Sebastien Sisak), que não tem interesse pois está devoto à religião. Quando ela fala em vingança contra Kuratov, o supervilão, ele aceita com facilidade a tarefa, transmitindo incoerência, ainda mais quando não se sabe exatamente o porquê de tanta raiva. Isto é, a rusga que tiveram no passado é mencionada, jamais aprofundada. Por isso que, quando Ler aceita a missão, acaba sendo incoerente e artificial. Sisak é um dos melhores do elenco, com uma atuação apenas fraca (talvez nota 5). Outro medíocre é Anton Pampushnyy, intérprete do urso de Arsus, cujo drama pessoal chega a ser cômico, de tão forçado. Esse é outro grande problema da película: o roteiro tenta inserir, de maneira inorgânica, subplots para dar mais camadas à trama, com dramas pessoais dos heróis, todavia, o texto é tão mal elaborado que esses arcos dramáticos são desagradáveis e inúteis na narrativa. Desagradáveis, porque atrapalham a sua fluidez (pela inserção artificial) e são rasos; e inúteis ao não agregar em nada. Evidentemente, adicionar arcos dramáticos às personagens seria um acréscimo, entretanto, não é esse o caso, pois o que é feito no longa é inserir uma cena - um momento único - mais introspectivo com cada herói, conversando com a Major, como se bastasse para lhes dar profundidade. É uma afronta à inteligência humana fazer um filme assim, com a pretensão de ser sério.

A Major (Valeriya Shkirando) é a mãe do grupo, que precisa ouvi-los e aconselhá-los nos mencionados momentos introspectivos. A atriz é mais uma do grupo nota 5. Os demais são péssimos, principalmente Alina Lanina, que atua como a Mulher Invisível Kseniya. A participação de Sanzhar Madiyev é menor, pois Khan é marginalizado no filme. Em síntese, portanto, o fraquíssimo elenco russo não salva o pavoroso roteiro.

A direção de Sarik Andreasyan salva? Mais uma resposta negativa. De um CGI vergonhosamente amador (em especial em Arsus) a uma péssima maquiagem no vilão, praticamente tudo é desastroso. Exceção é uma referência a um golpe que Kuratov dá em Ler, idêntico ao que Bane dá na coluna do Batman. O que prevalece, porém, é uma direção muito ruim. Merece menção a sexualização das mulheres, visível na insistência dos contraplongées para mostrá-las de costas e por baixo (para não dizer de uma forma vulgar).

OS GUARDIÕES é um filme horrível de 88 minutos que parecem durar 388. Se tem algo que se pode aproveitar dele, é certamente a bela música-tema, único bom atributo da película, que entra nos anais das piores produções cinematográficas já feitas.

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